Encruzilhadas No coração de Shirley: a cidade, o gênero e o corpo no cinema de Edyala Yglesias
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Resumo
As encruzilhadas são o loci da comunicação e da cultura. Através de suas vias bifurcadas e entroncadas, andamos a esmo ou somos conduzidos pelos canais abertos, interditos e avançados de uma cidade que é sempre, como articula Ítalo Calvino (1990), uma obra do espírito ou do acaso. De suas muralhas, jardins, nomes emplacados de ruas e avenidas, imensos arranha-céus e amplos condomínios – como resultado de novas tecnologias contemporâneas ou como reminiscências de um mundo antigo e esquecido – nos são lançados inúmeros questionamentos de onde margeamos e cruzamos uma floresta de signos que nos pedem atenção. Deste intercurso, vamos sendo transportados para a narrativa fílmica de Edyala Yglesias, No Coração de Shirley (2002), como uma rede de símbolos que fia e traça nos novos os velhos caminhos, como espelhos ante espelhos, labirínticos e covalentes, cujos fragmentos montam um conjunto de imagens que nos estimula e incomoda. Os entrecruzamentos entre a cidade,o gênero e o corpo, no cinema baiano, são as nossas principais encruzilhadas, como uma via produtiva para chegar ao coração de Shirley. O coração é o grande circuito por onde se entrecruzam as metáforas que inserem o mundo convulso das personagens e exibem, alegoricamente, as novas centralidades urbanas e contemporâneas. Na incorporação desses cruzamentos, assistimos ao efeito, quase pulsional, com que as culturas artísticas da atualidade têm intercedido à figura emblemática da trans, como uma tentativa de escamotear as definições de identidade e gênero.