Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu (Doutorado Acadêmico) em Ecologia Humana e Gestão Socioambiental (PPGEcoH)

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    Prevalência e fatores de risco associados à doença renal crônica em duas comunidades indígenas do nordeste brasileiro
    (Universidade do Estado da Bahia, 2023-08-22) Gomes, Orlando Vieira; Armstrong, Anderson da Costa; Lins Neto, Ernani Machado De Freitas; Lima, Artur Gomes Dias; Costa, Denise Maria Do Nascimento; Fernandes, Gisele Vajgel
    A doença renal crônica (DRC) é um sério problema de saúde global, especialmente em países com recursos limitados. As populações indígenas têm sido particularmente afetadas, enfrentando maior morbidade e mortalidade em idades mais jovens. Esta tese teve como objetivo descrever a prevalência de DRC e analisar os fatores de risco associados em duas etnias indígenas brasileiras do Vale do São Francisco, região Nordeste do Brasil: Truká (mais urbanizada) e Fulni-ô (menos urbanizada). A tese é produto de um projeto intitulado “Projeto de Aterosclerose em Indígenas” que foi realizado em duas etapas distintas. A primeira etapa ocorreu entre 2016 e 2017 e envolveu a análise de indivíduos de 30 a 70 anos de idade de ambas as etnias. Na segunda etapa do projeto, que ocorreu entre 2020 e 2022, analisamos exclusivamente os dados dos indígenas da etnia Truká com idade igual ou superior a 18 anos. Nessa etapa, o estudo teve inicialmente como foco a população acima de 60 anos de idade. Posteriormente, o escopo foi ampliado para abranger toda a população indígena com idade acima de 18 anos. A participação em ambas as etapas foi voluntária, e o projeto adotou um desenho transversal para seus estudos. A DRC foi definida da seguinte forma: na primeira etapa, a DRC foi considerada quando a taxa de filtração glomerular estimada era < 60 mL/min/1,73m²; na segunda etapa, a DRC foi definida como taxa de filtração glomerular estimada < 60 mL/min/1,73m² ou relação albumina-creatinina urinária > 30mg/g. Os resultados mostraram maior prevalência de DRC na população mais urbanizada, com 6,2% no grupo Truká e 3,3% no grupo Fulni-ô na primeira etapa. Na segunda etapa do estudo, a prevalência da DRC na população indígena Truká com mais de 60 anos foi de 26,6%. A doença foi mais comum em mulheres e aumentou com o avançar da idade. Hipertensão e diabetes foram comorbidades frequentes, presentes em 67,7% e 24,0% dos casos de DRC nessa faixa etária específica, e estavam significativamente associadas à doença. Na análise posterior com 1.654 indígenas Truká acima de 18 anos, a prevalência de DRC foi de 10%. Na análise univariada dessa população, DRC foi mais comum em mulheres (12,4% vs. 6,9%, p <0,001), idosos (OR 4,6, IC 95% 3,2-6,6), indivíduos com doença cardiovascular (OR 2,1, IC 95% 1,1-4,1) e dislipidêmicos (OR 1,6, IC 95% 1,1-2,4). Na análise multivariada, utilizando o modelo de regressão logística de Bernoulli, idade acima de 60 anos, sexo feminino e dislipidemia permaneceram associados à DRC. Diabetes, hipertensão e obesidade não se associaram significativamente à DRC na população indígena acima de 18 anos. Esses resultados surpreendentes levantam questionamentos sobre possíveis causas da DRC em indígenas avaliados. A hipótese de uma forma específica de DRC, conhecida como 'doença renal crônica de causa desconhecida', pode ser um fator subjacente no desenvolvimento da doença nessa população. Atividades agrícolas em condições climáticas adversas, exposição a pesticidas e desvantagens socioeconômicas podem estar relacionadas ao surgimento dessa apresentação de DRC. A predisposição genética também pode influenciar nesse contexto. Os achados têm implicações significativas para a saúde pública e abrem novas perspectivas para estudos futuros. Propõe-se medidas culturalmente adaptadas, incluindo educação em saúde, saneamento, nutrição, respeito à cultura indígena, acesso equitativo à saúde, e incentivo à pesquisa, incluindo investigação genética e estudo histopatológico através de biópsia renal. Integrar essas propostas na formação acadêmica dos profissionais de saúde pode proporcionar cuidados sensíveis para todos, independentemente da origem étnica, resultando em benefícios significativos.
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    As ecologias do sertão e do (a) sertanejo (a): Um estudo topofóbico-topofílico do semiárido nordestino na representação (de) colonial de personagens do cenário artístico Brasileiro
    (2023-02-01) Sarmento, Elisângela Campos Damasceno
    As ecologias do sertão e do sertanejo ambientam-se, nesta tese, nas obras O Sertanejo (2002) [1875], de José de Alencar, O Quinze (2012) [1930], de Rachel de Queiroz, Vidas Secas (2013) [1938], de Graciliano Ramos, e Asa Branca (1947), de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira. Desse modo, esta pesquisa tem como objetivo precípuo investigar, sob o método da Análise do Discurso de Linha Francesa e das perspectivas ecocrítica e zoocrítica - que estudam as imbricações entre Literatura e Ecologia/Zoologia respectivamente-, a topofobia e a topofilia nas obras em epígrafe, a fim de delinear as ecologias do sertanejo e do sertão, através de suas representações (de) coloniais, levando em conta as contribuições da Geografia Humanista para o campo da Ecologia Humana, dialogando, também, com Filosofia, Psicanálise, História, Sociologia, Antropologia, Educação e as perspectivas da (de) colonialidade, da ecologia de saberes, da interculturalidade e da convivência com o semiárido, com vistas a desvelar os fatores socioculturais e simbólicos que estão correlacionados às categorias de lugar, paisagem e território nas relações homem-ambiente. Sendo assim, os discursos presentes nas obras em exame demonstram que os sertanejos apresentam uma ambivalência de relações com o sertão, em virtude dos contrastes naturais da fitofisionomia da caatinga (seca, verde), das pulsões de morte e de vida, das forças apolíneas e dionisíacas e dos comportamentos competitivos e cooperativos que permeiam a essência humana, além dos sentimentos topofóbicos e topofílicos que coexistem na relação ser humano-ambiente, sinalizando que as mudanças do tempo e do ambiente alteram as emoções e as percepções do sertanejo frente à vida e ao próprio sertão. Ademais, verifica-se que, na representação do sertanejo, ocorre a predominância da colonialidade do poder, do saber e do ser, embora se evidenciem personagens (nos romances) e eu-lírico (na canção) contra-hegemônicos que apresentam uma resistência a esse legado de dominação e opressão. Portanto, a Ecocrítica e a Zoocrítica se configuram como férteis inspirações ao desvelamento das relações ser humano-ambiente e se projetam como áreas interdisciplinares, articulando-se com Geografia, Sociologia, Filosofia, Antropologia, Psicanálise e outras ciências afins, trazendo, assim, uma compreensão mais complexa e profunda dessas relações.
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    A voz do Tempo: os ventos do Terreiro Bandalecongo
    (2017) Marques, Juracy; Alves, Maria Rosa Almeida; Marques, Robson
    Este talvez seja o mais desafiador exercício a que tenha me submetido nos últimos anos, senão de toda a minha vida enquanto pesquisador: tentar organizar palavras e dar-lhes os merecidos sentidos, dedicando-as aos rabiscos e contornos para o desenho das impressões primeiras de um convite para a leitura desta obra, que se organiza sob os esforços de pesquisadores comprometidos. Não seria difícil evidenciar o currículo individual dos acadêmicos que se empenharam para a realização deste projeto, mas percebo como de maior contributo a gratidão destes por serem agraciados quando do acesso aos conhecimentos e saberes, seja nos terreiros (in locus), ou mesmo em bibliografias disponíveis. O fato é que considero todo o empenho da equipe do Projeto Nova Cartografia Social dos Povos Tradicionais uma responsabilidade social e acadêmica que, a contento, está sendo realizada. Desta vez os esforços foram direcionados para a evidenciação de um fenômeno, dentre tantos outros que ocorrem nas religiões de matriz africana, por uns, chamado de Iroco, por outros, Tempo. Para este prenúncio da obra pode parecer pertinente um breve acesso à memória das viagens em navios, de um continente a outro, onde sonhos, corpos e almas foram e ainda são (trans) feridos pelo poder cortante e sangrento de um ser da mesma espécie que subjuga (va) e mata (va) seus semelhantes por posses. Tantas foram as caminhadas e os açoites por veredas e ambientes distintos, mas comuns a todos que, das matas, das águas, dos ares e da terra representações sagradas foram estabelecendo relações para uma nova ordem do e no Universo. Orixás, Espíritos, Caboclos, Nkisis e Encantados fizeram e fazem da dor, da perda e até mesmo da morte, o (re)nascimento, carregando também o anonimato, as descobertas, as criações, os sonhos e os prazeres das músicas e das danças em rituais. Transformaram e continuam a transformar a repressão e a hostilidade em locomotivas mágicas, encantadas, visíveis e invisíveis que conduzem também a existência humana por trilhos misteriosos de cantos e encantos com sons de atabaques, berimbaus, tambores, palmas e vozes. Eles percorreram e ainda se movimentam nos trilhos sobre (dor)mentes, por estações que aqui no sertão também são chamados de centros, roças, terreiros, barracões, ocas, árvores e templos sagrados, dentre outros. Não vejo risco algum embarcar nesta vagem. Aconselho que mergulhem nesta história de corpo e alma por se tratar também de confissões e relatos muito particulares desde a morada primeira na África, passando pelas margens litorâneas, adentrando nos interiores até suas moradas nos Sertões. E é no Sertão baiano, na cidade de Juazeiro que a equipe da Nova Cartografia Social dos Povos Tradicionais ancora seus barcos às margens do São Francisco, sela seus jumentos, e, com seus apetrechos proseiam com pais e mães de santo, Yalorixás, babalorixas, ogãs, ekedis, makotas, filhos e filhas de santo, enfim ouve das pessoas de candomblé, umbanda e cruzado relatos de pertencimento das e nas religiões de matriz africana. Neste livro queremos dar Voz ao Tempo, senão escutar o sons do seus caminhos. Queremos destacar que a voz não é a palavra. A palavra é uma das manifestações da voz. O que conseguimos traduzir aqui se faz a partir da tradição oral das pessoas que vivem o cotidiano dos terreiros de candomblé e umbanda nos Sertões do nosso Brasil, dos quais, destacamos o Terreiro Bandalecongo regido pelo Tempo. Mais especificamente, esta equipe desvenda os encantos e segredos do Orixá Tempo; localiza o Terreiro Bandalecongo no bairro Palmares I, mais conhecido como Quidé, e que tem como Yalorixá Maria da Paixão (Mãe Maria de Tempo) para que você, leitor, possa também ser parte desta narrativa.
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    Cultura nordestina: símbolos e artefatos das festas juninas de territórios do sertão
    (2022) França, Adson Cardoso de; Santos, Andréa Cristiana; Conceição, Arilsângela de Jesus; Silva, Tânia Cristina da
    Festejar a passagem do tempo foi historicamente uma das fecundas tradições dos povos antigos. Antes do processo de expansão da doutrina cristã, homens e mulheres realizavam práticas ritualísticas de culto ao fogo, mantinham crenças e superstições que os ajudavam a compreender o mundo que os circundava junto ao contato com a natureza. As práticas culturais se relacionavam com o calendário agrário, o solstício – a célebre data de 23 de junho - e o equinócio - 23 de setembro (PAULA, 2020). Com a secularização do mundo, a tradição se manteve, desenvolvendo uma relação de hibridismo cultural que relaciona práticas de devoção aos santos católicos – Santo Antônio, São João e São Pedro – com o mundo pagão, as festas, entretenimento e, mais recentemente, a uma economia da cultura dos festejos juninos. As festas juninas abrangem diferentes expressões e símbolos culturais, sociais e históricos, com os quais nos relacionamos de maneira espontânea (PAULA, 2020). Entre os símbolos, estão a fogueira, os fogos de artifício, as quadrilhas, as barracas, a ornamentação de ruas, o forró e as comidas típicas da época.
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    A Zooterapia do povo indígena Pankararú no Semiárido Pernambucano
    (2017) Santos, Carlos Alberto Batista; Lima, Jaciara Raquel Barbosa De
    A pós-modernidade descortinou uma constelação de discussões acaloradas sobre a utilização dos recursos naturais, emergindo com bastante vigor a questão da sustentabilidade, devido a aceleração ao consumismo, dentro de interesses pautados numa lógica da reprodução do capital, que vem se mostrando extremamente predatória ao meio ambiente, causando graves problemas ambientais, ou como prefere o importante pesquisador mexicano Enrique Leff, “uma crise civilizatória”. O ser humano é espécie que, de modo consciente, mais transforma, adapta e se adapta às condições ambientais. Nesse diapasão, estudos sobre o uso dos recursos naturais pelos povos tradicionais ganham relevância, devido às suas relações mais harmônicas e sustentáveis com os elementos da natureza, como afirmou Elionor Ostrom, Prêmio Nobel de economia. O trabalho que ora temos o prazer de prefaciar, vem justamente valorizar as percepções do povo Pankararu dos elementos naturais que os cercam, numa perspectiva êmica, oferecendo aos pesquisadores das mais distintas áreas do conhecimento importante subsídio para compreensão do saber/fazer desse povo. Os conhecimentos sobre os usos de animais com fins terapêuticos detidos pelo povo Pankararu, foram/ são transmitidos oralmente, de geração a geração, e vêm ganhando a atenção dos centros acadêmicos, principalmente no âmbito das etnociências. Compactuando-se com uma nova mentalidade de ressignificações de “conhecimentos válidos”, o presente trabalho aborda as experiências do povo Pankararu, no tocante aos usos da fauna com fins terapêuticos, abrindo espaço para a valorização dos conhecimentos tradicionais. As pesquisas empreendidas nessa empreitada vêm contribuir, de modo significativo, para acrescentar subsídios para uma melhor compreensão dessas práticas tradicionais. Corrobora para a confirmação de uma grande biodiversidade da caatinga (51 espécies animais foram detectadas na área estudada), e os usos sustentáveis desses recursos, além de, talvez mais importante, as simbologias intrínsecas nos elementos naturais utilizadas nas práticas curativas, como relacionar partes dos organismos utilizados às doenças específicas. Os resultados dessa pesquisa são, sem dúvidas, importantes contribuições para pesquisas posteriores, tanto para as etnociências, como outras áreas de estudos.